Varig: a história da primeira companhia aérea brasileira
Varig: Conheça em vídeo a história da primeira companhia brasileiro, que foi do luxo à falência
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Otto Meyer
Os mais novos podem nem saber do que estamos falando, mas a Varig, é um ícone da aviação nacional e foi, durante muitos anos uma das mais importantes empresas de aviação do mundo. A empresa foi fundada em maio de 1927, pelo no município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, pelo empresário alemão .
Otto, filho de um alemão e uma francesa, nasceu em Hanover, e veio para o Brasil em 1921. Antes de vir, ele foi oficial aviador da força aérea alemã. Mas quando chegou ao Brasil, foi direto para Recife, onde trabalhou como fiscal em uma empresa de tecidos. Visionário, conseguiu enxergar no Brasil, de distâncias continentais, as dificuldades que enfrentávamos no transporte, e começou a imaginar a ideia de criar a sua própria companhia aérea, para resolver esse problema. Naquele tempo ainda não tínhamos nenhuma empresa que fazia voos comerciais no Brasil.
A fundação.
Tentou encontrar interessados para ajudá-lo com sua ideia em Recife, mas não conseguiu. Antes de ir para Porto Alegre, ainda morou por um tempo no Rio de Janeiro, onde também não conseguiu apoio para a ideia, acabou mudando para o Sul em 1923. Dois anos depois, conseguiu encontrar o apoio que precisava para a realização do grande projeto. Diversos empresários do estado apoiaram, até mesmo o governador, que concedeu 15 anos de isenção de impostos para a empresa. Em maio de 1927, a empresa foi oficialmente registrada e iniciou a operação de voos regulares entre as cidades de Porto Alegre e Rio Grande, com escala em Pelotas.
O primeiro avião, chamado de Atlântico, foi um Hidroavião de nove lugares, que só podia pousar onde havia um espelho d`agua. Nesse avião os passageiros literalmente embarcavam, pois tinham que ser conduzidos em um barco até a aeronave. E um detalhe, todos os passageiros eram pesados, e quem tinha mais de 75kgs, tinha que pagar um extra na passagem. Piadinha.
O nome Varig
A ligação com o Rio Grande do Sul, não estava apenas na fundação, mas também no nome da empresa, Varig é a sigla do nome inicial da empresa que foi Viação Aérea Rio Grandense. Essa eu só descobri nas pesquisas para esse vídeo. Você sabia disso?
Evolução da empresa.
Na década de 30, os primeiros aviões com trem de pouso passaram a ser usados, dando início a construção dos aeroportos nas cidades do sul do país.
Até o início da Década de 40, a empresa fazia apenas voos regionais no Sul. No final de 1941, em plena segunda guerra mundial, o Brasil decidiu se juntar aos aliados na luta contra o Nazismo. Para não ter problemas para a empresa, o alemão Otto, decidiu renunciar a presidência em favor de Ruben Berta, o primeiro funcionário da companhia, que havia começado como auxiliar de escritório. Uma reportagem da Folha de São Paulo, de 2001, revelou que o governo americano possuía vários documentos do período da guerra, sugerindo ligações do presidente Otto e da Varig a Alemanha e consequentemente ao nazismo, o que inclusive resultou numa negativa para compra de aeronaves americanas naqueles anos.
A saída do alemão mostrou-se um grande acerto. Com Berta como presidente a empresa começou a se expandir para outras regiões do Brasil, e até para o exterior. Ainda em seu primeiro ano, a empresa realizou seu primeiro voo internacional ligando Porto Alegre a Montevideu. Ainda na década de 40, começou a voar também para SP e RJ. Berta era um apaixonado pela empresa, e dedicava a maior parte do seu tempo a ela. Tanto que a esposa chegou a dizer que ele tinha uma amante que era a Varig e que ela não conseguia competir. Ruben Berta foi presidente da empresa até a sua morte em 1966.
Voando para os EUA.
Dez anos depois do fim da guerra, já finalizada a ameaça nazista no mundo, em 1955, o primeiro avião da empresa decolou com destino aos EUA. Nova York foi a cidade escolhida. Até o encerramento da companhia, o voo RJ-NY era considerado a pérola da empresa. Mas o voo inicial era um super pinga pinga, tanto com intenção de ligar o máximo de cidades possíveis, quanto devido as restrições de voo dos aviões da época. Seu trajeto completo era Buenos Aires, Montevideu, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Port of Spain (Trinidad e Tobago), Santo Domingo (Republica Dominicana) e Finalmente Nova York. Já imaginaram?
Qualidade Varig
A empresa sempre prezou pela qualidade em seus serviços prestados. Desde os primeiros voos, o melhor atendimento possível era oferecido aos passageiros. No avião que voava para os EUA, tinham assentos que eram quase camas, e um chef de cozinha russo. Era comum dizer que a comida servida a bordo era melhor do que qualquer restaurante brasileiro.
Muito Luxo e Requinte
Voar com a Varig era chique e caro. Tudo era impecável. O slogan da empresa era: Varig, a forma elegante de voar. Os passageiros sempre vestiam as melhores roupas para voar, muitos iam de terno, as mulheres de vestido e chapéu, somente para ostentar. Isso muito muito antes das redes sociais heim. Os comissários de bordo, em seus uniformes confeccionados em materiais de primeiríssima qualidade, acendiam os cigarros para os passageiros (sim, era permito fumar a bordo, imagina a fumaceira dentro do avião, nossa senhora). Eles também se esforçavam para mimar os passageiros de todas as formas possíveis.
Classe economica tinha duas opçoes de prato quente, talheres de metal, copos de vidro, isso para voos dentro do Brasil. Na primeira classe sempre tinha champanhe ou uísque para os passageiros, com pratos com caviar e até churrasco no espeto. Além disso, os talheres eram de prata e os copos de cristal. Em 1979, a empresa ganhou o prêmio de melhor serviço de bordo do mundo, pela revista Air Transport World.
Um outro detalhe interessante é que as centrais de atendimento da empresa no exterior, funcionavam quase como uma embaixada extra oficial do Brasil. Nesses locais, eram prestados diversos serviços de apoio aos brasileiros e também forneciam inúmeras informações aos viajantes. Além da excelência no atendimento, essas lojas também eram famosas pelo seu requinte e localização privilegiada como a de Paris que ficava em plena Avenida Champs-Élysées e a de New York que ficava instalada no Rockefeller Center. Muitas vezes serviam de ponto de encontro para grupos de turistas que se dividiam em diferentes roteiros pelas cidades visitadas.
HUB no galeão
Até a década de 80, o Galeão, no Rio de Janeiro, era o principal aeroporto internacional do Brasil. Por isso era o maior hub da empresa, de onde partiam as rotas para o exterior. Somente em janeiro de 1985, o aeroporto de Guarulhos foi inaugurado, e o primeiro voo que pousou foi da Varig, vindo de Nova York.
O fim do glamour.
No final dos anos 80, com a chegada das empresas “low cost and low fare” que seria baixo custo e baixa tarifa, a concorrência começou a apertar. O Brasil já tinha outras grandes companhias que incomodavam no mercado interno, como VASP e Transbrasil, além da TAM. O mercado Internacional ainda era dominado pela Varig, devido ao monopólio em diversas linhas, mas a situação começou a mudar com a abertura do mercado, e empresas estrangeiras começaram a poder voar diretamente para o Brasil, começando a abocanhar o market share da empresa.
Isso fez com que os serviços oferecidos, principalmente para a classe econômica, começassem a serem cortados, para fazer frente a concorrência.
Um outro fator que atrapalhou muito a empresa foi o congelamento tarifário que vigorou no Brasil de 1985 a 1992. Os preços de todos os bens e serviços eram tabelados e definidos pelo governo, como parte do Plano Cruzado. Essa política, como todos nós sabemos, apesar de ter boa intenção, a contenção da inflação, é uma política econômica extremamente desastrosa para as empresas, para o país e principalmente para a população.
Em 1994, um dos primeiros sinais que as coisas não estavam boas, foi a moratória que a empresa aplicou em seus credores. A justificativa foi problemas de fluxo de caixa e ambiente macroeconômico. Com isso diversos aviões acabaram sendo devolvidos ou vendidos para outras empresas.
Smiles.
Mesmo assim, amparado pela força da marca, ainda em 1994, a empresa lançou o Programa de Fidelidade Smiles. Sim, esse mesmo que hoje é propriedade da GOL. Rapidamente, o programa se tornou o maior da América Latina. Atualmente é um dos principais e chegou a valer mais do que a própria Gol que é a dona.
Gol
Inclusive, a entrada da Gol Linhas Aéreas no mercado, em 2001, chacoalhou ainda mais as companhias tradicionais. Pois ela entrou com a ideia de tarifas mais baixas, o que rapidamente caiu no gosto da população. E dificultou para as outras empresas que tinham uma estrutura de custos muito inchada.
Se por um lado o consumidor ganhou preços mais baixos, por outro se apertou um pouco mais. Começaram as engenharias para aumentar o número de poltronas no avião, diminuindo o espaço entre elas, para colocar o máximo possível de pessoas em cada viagem.
Variglog
No início da década de 2000 a empresa fez um spin-off da sua divisão de cargas, criando uma empresa específica para isso, que foi a Variglog. Rapidamente se tornou a empresa de transporte de cargas aéreas mais importante da América Latina, e foi a primeira parte do grupo que foi vendida no processo de finalização da empresa.
A queda
Por mais de quinze anos, a empresa apresentou prejuízo em seus balanços, com a dívida se acumulando em mais de 7 bilhões de reais. Outro ponto que chama a atenção é a excessiva troca de comando, 5 presidentes passaram pela empresa em um período de 5 anos. Ainda assim, até 2001, a empresa detinha o maior % de market share no mercado brasileiro, nesse ano, acabou sendo superada pela TAM.
Em junho de 2005, a justiça brasileira aceitou o pedido de recuperação judicial da empresa, que foi a última saída encontrada para tentar fazer a empresa voltar a operar. A situação da empresa era tão grave, que as pessoas falam que nos últimos voos, os funcionários que eram mais apaixonados com a empresa, chegavam a comprar coisas do próprio bolso para oferecer aos clientes durante o trajeto, como café.
Em agosto de 2006 foi realizado o último voo internacional da empresa, para a cidade de Frankfurt, na Alemanha. E em dezembro de 2006, foi realizado o último voo da empresa como Varig. Diversas audiências com os credores foram feitas, até que a proposta da Gol foi aceita, para compra da parte boa da empresa em abril de 2007, por 320 milhões de dólares.
Mesmo depois da compra, a Gol operou as aeronaves com a pintura da Varig por muito tempo até adequar a frota, o que levava as pessoas a acreditarem que estavam voando pela Varig. No meu caso, apesar de já ter viajado de avião algumas vezes antes, minha vida de viajante se acelerou mesmo a partir de 2009, por isso, não me recordo de ter viajado em voos operados diretamente pela Varig, mas nos ex-aviões da empresa já operados pela Gol eu me lembro de ter voado algumas vezes, antes da mudança nas pinturas.
A falência
No dia 20 de agosto de 2010, a falência da empresa e de suas subsidiárias, foi decretada, deixando assim de existir.
Curiosidades
A Varig, como uma das principais companhias aéreas brasileiras, transportou diversas celebridades. Três eventos ficaram marcados na história da aviação Brasileira. A visita do Papa João Paulo II em 1980. E os outros dois em 1994, o transporte do corpo do ídolo Ayrton Senna da Europa para o Brasil. E também o retorno da seleção brasileira de futebol da Copa de 1994, onde ganhamos o Tetra Campeonato, a cena do Romário com a bandeira do Brasil na janela do avião é clássica.
Ainda sobre copa do mundo, a empresa também foi a responsável por levar os atletas desde a Copa de 1966. Depois de 11 copas, a despedida foi na Alemanha, em 2006.
Durante todo o seu período de operação, a empresa utilizou 427 aeronaves diferentes, desde o hidroavião, o primeiro modelo, até o Boeing 757-200, o último modelo encomendado, comprados da companhia espanhola Iberia.
Por que faliu?
É muito difícil essa afirmação. Sempre é um conjunto grande de fatores que faz com que uma empresa venha a falência. Alguns detalhes que destacamos no vídeo podem ser os responsáveis como o congelamento de tarifas, a constante troca de comando da empresa. Uma possível mudança de comportamento do consumidor, que com o aumento da concorrência começou a preferir preços mais baixos e deixar o serviço em segundo plano.
Eu não sou um especialista em aviação, mas um detalhe que me chamou a atenção, foi a quantidade de aviões diferentes que a empresa teve ao longo da sua trajetória. Está certo que sempre foi em busca da melhor tecnologia disponível, mas não houve uma concentração de modelos ou mesmo de marca da aeronave, como vemos nas companhias atuais. Hoje normalmente as empresas tem poucos modelos de aviões, pois isso barateia muito o custo de manutenção, estoque de peças, treinamento da equipe, tanto de manutenção como também de manuseio do equipamento. Isso pode ter contribuído também, principalmente quando começamos a falar muito em low cost/low fare.
A Varig foi uma das principais empresa do mundo da aviação, e uma das principais empresas brasileiras do século passado. É uma pena ela não ter conseguido continuar, mas infelizmente o mercado é assim, se não ficar esperto, o concorrente vem e toma o seu lugar.
O que você achou desse vídeo? Me diz aqui nos comentários se você chegou a voar pela Varig, e também qual a próxima empresa de logística que você gostaria de conhecer a história.